Doze moradas de silêncio

hoje é dia de coisas simples 
(Ai de mim! Que desgraça! 
O creme de terra não voltará a aparecer!) 
coisas simples como ir contigo ao restaurante 
ler o horóscopo e os pequenos escândalos 
folhear revistas pornográficas e 
demorarmo-nos dentro da banheira 
na ladeia pouco há a fazer 
falaremos do tempo com os olhos presos dentro das 
chávenas 
inventaremos palavras cruzadas na areia... jogos 
e murmúrios de dedos por baixo da mesa 
beberemos café 
sorriremos à pessoas e às coisas 
caminharemos lado a lado os ombros tocando-se 
(se estivesses aqui!) 
em silêncio olharíamos a foz do rio 
é o brincar agitado do sol nas mãos das crianças 
descalças 
hoje 



Envolver-me 
na mais obscura solidão das searas e gemer 
Amassar com os dentes uma morte íntima 
Durante a sonolência balbuciante das papoulas 
Prolongar a vida deste verão até ao mais próximo verão 
para que os corpos tenham tempo de amadurecer 

...colher em tuas coxas o sumo espesso 
e no calor molhado da noite seduzir as luas 
o riso dos jovens pastores desprevenidos...as bocas 
do gado triturando o restolho....as correrias inesperadas 
das aves rasteiras 

....e crescerei das fecundas terras ou da morte 
que sufoca o cio da boca..... 
....subirei com a fala ao cimo do teu corpo ausente 
trasmitir-lhe-ei o opiáceo amor das estações quentes. 



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